Time's up, girl!

Levantar, fazer a higiene pessoal, trabalhar, sentar, comer, ler o jornal no pc, ligar aos amigos que fazem anos, despachar serviço no trabalho, correr a levar/buscar miúdos à escola, telefonema à Mãe, à irmã, etc, etc... A vida de cada um dos nossos dias é cheia de rotinas que damos por garantidas. Só por o pé de fora de manhã e seguir desde a cama ao trabalho é um acto tão mecanizado, que já existem teorias [e livros, obviamente] para exercitar o cérebro e contrariar a tendência.
A rotina associada a estes actos todos, e de outros que, por estarem tão mecanizados, nem me consigo lembrar deixa-nos dormentes perante a própria vida, que é tão maior que nós!...
Infelizmente, temos a tendência a confrontarmo-nos com isso em cima do acontecimento, que é como quem diz, na hora do aperto.
Não fui excepção.
Felizmente, tive a oportunidade de, mais uma vez, relembrar que devemos dizer/mostrar a quem amamos o que sentimos TODOS OS DIAS, SEMPRE QUE TEMOS OPORTUNIDADE!
A minha mãe teve uma forte indisposição que, de acordo com um diagnóstico prévio, fundado em exames simples, mas conclusivos, não grave, só temporariamente debilitante. É chato, mas trata-se e vai passando. Assustou-nos a todos, assustou muito o meu pai e mais ainda aminha Mãe.
A mim, para além de me ter passado de a ver entregar os pontos a uma situação que não se justificava em si mesma, fez-me dar atenção à dura confrontação de que, efectivamente, os meus pais estão a viver na curva descendente... - e a ficar VELHOS. É assim mesmo que se diz. VELHOS.
Vê-la ali, sentada no carro, enquanto vencíamos os quilómetros até Lisboa, para ir ao Hospital, à urgência, sem assunto (quando não há assunto, o que é raro, implica com qualquer coisa minha, que fiz ou deixei de fazer ou whatever...) começou a apertar-me o "lado esquerdo"...
Depois, acompanhá-la e vê-la ali, tão pequenina, tão indefesa, com a voz num fio... perguntando-me as coisas 2 e 3 vezes... deitou-me abaixo. Ouvi-la dizer "é o princípio do fim..." matou-me!
Por me confrontar com a sua finitude e porque tive a sensação de que passei para o outro grupo do "jogo"... deixei ali de ser simplesmente uma das "gaiatas" (somos todas "gaiatas", apesar de todas sermos "over 40"), para passar para a equipa que está na 1ª linha... as "mulheres"...
Na minha família, que é francamente marcada pelas figuras femininas, matriarcal, passar para o lado das "mulheres" é um marco. Uma transição. Mais outra... Somos nós que levamos o barco pelas águas turbulentas das coisas da vida. Os homens limitam-se a seguir para onde os mandamos. Eles sabem que é assim. Não discutem. Porque, nos momentos dolorosos e decisivos, somos nós, com a nossa intuição que orientamos esta Nau Catrineta nossa. E sabem que, de uma maneira ou de outra, os levamos sempre a bom porto.
Começa a pensar-se que o tupperware com o jantar para mais logo ou as bolachas especiais não é para sempre. Ou que tens de pedir a receita mágica para as batatas doces assadas ficarem bestiais como as dela. Ou que um pico de trabalho que te obriga a "desviar" os miúdos  é trivial, porque os avós estão lá...
Tudo isto considerado, começei a ouvir lá ao fundo, do fundo de mim, uma frase:
"Time's up girl! It's your turn now! It's your time to run the boat!!"

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