O Sangue e o Amor

Há dias aflorei a questão da adopção num post que editei num blog amigo.
Mas como acho que é uma questão que merece mais do que 5 linhas, achei que era boa ideia voltar “à carga” por aqui.

Antes de ter sido mãe, tinha algumas ideias que, por força de circunstancialismos de ordem económica, até uma dada altura, foram revogadas. Tinha a ideia de ter 4 filhos, porque sentia um apelo muito grande à maternidade. Depois de ter o Tomás, ainda não tinham passado 2 anos e engravidei da Rita. Tive medo. Medo de não ser capaz de amá-los aos dois de forma igual, medo de não conseguir cumprir as tarefas de mãe, medo das escolhas que fazemos por eles e que os condicionam no futuro, enfim, tantos medos que o dia-a-dia nos obriga a dissipar, porque é mesmo assim.

Amo os meus dois baixinhos mais do que a tudo, de forma igual – sendo que, como já tive oportunidade de expressar – estão as meninas para os papás e os meninos para as mamãs. É assim, não há volta a dar a isto. Dá trabalho?... pois dá. Os encargos são enormes?...pois são. Nunca mais se tem descanso? …pois não.

Mas a felicidade de os ver crescer é infinita. Assim como infinita é a alegria de saber que há um bocadinho de nós que se perpetua, para além da nossa própria existência. Narcisismo?... seja. Não sou hipócrita. Gosto da ideia de que neles há um bocadinho de mim, que irá para além daquilo que eu sou.

E eis-me chegada ao tema deste post. A adopção. Antes de ter os meus meninos, considerava adoptar uma criança. Mas, confesso, fazia-o com muita leveza. Porque acho que não tinha a percepção real do amor, da entrega, da abertura que um tal acto implica.

Agora, no presente momento, isso está afastado. Não definitivamente, mas a acontecer, só mediante alguns pressupostos muito concretos. Porquê? Porque adoptar por adoptar, sem ter condições condignas para tal, é irresponsável. Mas ainda gostava de poder reunir as condições ideais para dar felicidade a uma criança.

Costuma dizer-se que a força do sangue é enorme. Mas a do amor ainda é maior. Eu creio que um casal – ou uma pessoa só, é indiferente para mim – que adopte uma criança tem que ter um amor maior, porque não tem o elemento “sangue” a funcionar. E eu sei que este elemento pesa muito, quando os casais abordam esta possibilidade. É um ser "estranho", uma criança de quem se não conhecem parentes, antecedentes, proveniência, meio social, etc, e portanto, há-de haver, necessariamente, neste acto, uma entrega maior, um altruismo até.

Sei que tenho dois filhos biológicos e o que vou dizer pode parecer injusto para quem não os consiga ter, mas, se eu estivesse numa situação assim, parece-me que não hesitava. “Não é a mesma coisa, não é do nosso sangue”. E então? Mesmo sangue? Acaso o sangue de um homem e de uma mulher que se unem, seja lá por que laço for, é o mesmo? E no entanto, amam-se, estranhos, ainda.

Este argumento não me “soa”. Não chega. As crianças não pedem para vir a este mundo. E se há quem as traga e as não queira, e se, por outro lado, há quem tenha possibilidade de cuidar delas, por que não dar-lhes esse amor? Porque não abraçar a possibilidade de “reescrever” a mais que certa infeliz história de uma alminha que há-de passar por n instituições, à espera de um colo para se aninhar, de uma mão amorosa para aconchegar os cobertores à noite, de uma boca melodiosa para contar histórias maravilhosas de encantar, de um ouvido para as angústias dos primeiros amores? Que na maioria dos casos, ou não vem ou já vem tarde.

Será que o facto de se adoptar uma criança traz, de alguma forma o estigma da incompetência de gerar filhos? Será?
Ou estaremos muito habituados a olhar só para dentro do nosso mundo?
Ou não somos tão civilizados como pensamos?
Porque será'

Comentários

Tão só, um Pai disse…
Pode ser uma visão muito egoísta mas, passei a encarar, com maior naturalidade, a ideia da adopção, depois dos "biológicos". Hoje, encaro, ainda com maior naturalidade, a possibilidade de uma adopção, sem filhos biológicos.
Concebo, por isso, que os pais tudo façam para terem, sempre, filhos biológicos, antes de considerarem a hipótese da adopção. Bem como a de esta última exigir uma maturidade, não só de amor e aceitação, como também de vida, que não se formaram, ainda, nos casais mais novos. E, quanto mais velhos os casais, menor a disponibilidade para crianças. E o desejo de tê-las. Mas, isto, não passam de coisas loucas que vou opinando. Sabendo, de antemão, que serei trucidado. Pois seja!
Maria João disse…
Olá, "Pai",
eu também encaro muito normal adoptar mesmo depois dos biológicos. E não hanendo biológicos, ainda mais. O problema - no meu caso, e no presente momento - passa por condicionalismos de ordem financeira, para começar. Depois, ao decidir continuar o curso, sobra-me pouco tempo para os meus, quanto mais para me envolver numa adopção. Mas numa coisa discordo -conheço pessoas mais velhas que têm agora muito mais disposição para adoptar, opinião que partilho. Por isso é que digo que é uma assunto ainda em aberto. Fazê-lo, neste momento, seria pura irresponsabilidade.
Não devem ser coisas loucas, são as coisas que se pensa. Que tu pensas.
Opina lá à vontade, que aqui na minha "xafarixa" não se admitem "bocas foleiras" como as que vi no Vida de Pais.
Pluralidade de opinião é bem vinda, achincalanços, ficam à porta, como os bés-béus nos cafés!

p.s. - a princesa, está melhor?

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